Bioeconomia em movimento: balanço da INPACTAS revela expansão de startups no Alto Solimões

Agência Rhisa
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No coração do Alto Solimões, incubadora da UFAM transforma saberes ancestrais em negócios sustentáveis. Em 2025, 14 startups avançaram em modelos de bioeconomia que unem ciência, conservação e geração de renda em comunidades isoladas.

O Alto Solimões, na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, combina uma das maiores biodiversidades do planeta com desafios históricos de logística, infraestrutura e geração de renda. Em meio a essa realidade, comunidades indígenas, ribeirinhas e populações vulneráveis convivem com longas distâncias, custos elevados de transporte e limitações de acesso a mercado. Apesar das barreiras, o território tem se tornado palco de iniciativas que unem conhecimento tradicional, pesquisa científica e empreendedorismo.

É nesse cenário que atua a Incubadora de Negócios de Impacto Socioambiental do Alto Solimões (INPACTAS), vinculada à Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e integrada ao Parque Científico e Tecnológico do Alto Solimões (PACTAS). Em 2025, a incubadora consolidou um ecossistema de inovação que impulsionou 14: Ingalate, BC Game Tec, Piracy, FluviVerde, CicloTerra, Amazônia de Boa, Iporã, IKABEN, Puwakana, EcoWaste, Passo Inteligente, Javari Studio, Kaweru e Data Rhisa B. Todas desenvolvem soluções voltadas para bioeconomia, tecnologias sustentáveis e fortalecimento das cadeias socioprodutivas da região.

Diferente dos grandes centros urbanos, onde indicadores econômicos costumam dominar o discurso sobre inovação, no Alto Solimões o impacto social e ambiental define o sucesso de um negócio. Na INPACTAS, isso significa apoiar empreendimentos que promovam a floresta em pé, respeitem a ancestralidade e gerem renda de forma justa para comunidades que, historicamente, ficaram à margem da economia formal.

Os indicadores de 2025 mostram avanços na formalização jurídica das startups, na ampliação do acesso a mercados e no fortalecimento das capacidades de gestão dos empreendedores. A incubadora também levou grupos para missões técnicas e feiras na tríplice fronteira, ampliou pontos de venda parceiros e organizou rodadas de negócio com compradores institucionais e varejistas.

Entre os exemplos de maior evolução, a IKABEN (startup de moda indígena do povo Kokama) se tornou um caso emblemático de como iniciativas locais conseguem acessar mercados maiores sem perder o vínculo com a ancestralidade. Após concluir o ciclo de incubação na INPACTAS, a marca avançou para uma etapa de aceleração nacional e hoje integra outro programa voltado ao desenvolvimento de novos negócios.

Joeliton Vargas Moraes, fundador da IKABEN, afirma que o percurso exigiu superar desafios logísticos e adaptar a rotina produtiva ao tempo das comunidades. “Cada obstáculo fez parte do nosso amadurecimento como startup indígena comprometida com respeito, verdade e ancestralidade. Hoje trabalhamos em projetos que nascem dentro das aldeias: registro de grafismos, formação de jovens e geração de renda justa”, diz. Segundo ele, o foco é ampliar parcerias com outras etnias “sem perder os valores culturais que sustentam a IKABEN”.

Reunião sobre ensaio fotografico das grifes da ikaben e puwakana (Foto: acervo inpactas)

Inovar onde a distância impõe limites

Empreender no Alto Solimões exige soluções adaptadas à realidade local. O transporte fluvial, a instabilidade de comunicação e a ausência de rotas rápidas tornam o ciclo produtivo mais lento. Ao mesmo tempo, esse isolamento preserva saberes e práticas que têm se tornado diferencial competitivo das startups apoiadas pela INPACTAS. A bioeconomia regional se constrói no compasso do território, valorizando conhecimento acumulado por gerações.

A UFAM e o PACTAS atuam como pontes entre os conhecimentos tradicionais e a pesquisa científica. Além de oferecer formação técnica e apoio à inovação, as instituições garantem que os empreendedores locais tenham acesso a laboratórios, consultorias e redes estratégicas. O trabalho conjunto tem fortalecido a presença da universidade no território e ampliado oportunidades para estudantes e egressos.

O que vem pela frente

O diretor da INPACTAS, Pedro Mariosa, afirma que 2025 foi decisivo para conectar as startups ao mercado. “Se o produto não sai da comunidade e não traz retorno para ela, vira só discurso. Neste ano, focamos em fechar essa conta”, explica. Ele destaca que a incubadora apoiou os negócios na formalização, precificação, identidade visual e presença em feiras e rodadas comerciais.

Para 2026, a expectativa é ampliar parcerias com redes de varejo, turismo e alimentação, tanto no Amazonas quanto em outros estados. A incubadora também planeja criar uma vitrine física e digital das startups, além de aprofundar o acompanhamento em áreas como logística, propriedade intelectual, registro sanitário e acesso a crédito. “Cada iniciativa apoiada precisa significar equidade, renda digna e protagonismo de quem vive no território. Nosso compromisso é transformar a bioeconomia em resultados concretos para as famílias do Alto Solimões”, afirma Mariosa.

Foto: acervo inpactas

Sobre a INPACTAS

A Incubadora de Negócios de Impacto Socioambiental do Alto Solimões (INPACTAS) é vinculada à Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e integra o Parque Científico e Tecnológico do Alto Solimões (PACTAS). Sua missão é incubar e acelerar negócios sustentáveis que valorizem a biodiversidade amazônica e os saberes tradicionais, fortalecendo cadeias produtivas e promovendo desenvolvimento local.

Por: Milena Monteiro