Fonte: Com informações de Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Os conflitos envolvendo comunidades tradicionais e unidades de conservação vêm crescendo em volume e complexidade nas últimas décadas. É o que revela uma pesquisa com participação de bolsistas do CNPq, que analisou 263 artigos científicos publicados entre os anos 1990 e agosto de 2024 nas bases Scopus e Web of Science. O estudo será publicado em agosto no Journal for Nature Conservation.
A pesquisa mostra que os principais pontos de tensão envolvem a limitação de práticas tradicionais de subsistência (como caça, pesca e agricultura familiar), a gestão excludente das áreas protegidas, conflitos com fauna silvestre, disputas territoriais, impactos culturais e a exclusão das comunidades dos processos decisórios. As situações são recorrentes em reservas naturais e parques nacionais, onde regras de conservação frequentemente ignoram os modos de vida e os direitos territoriais dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares.
“A sustentabilidade das áreas protegidas depende da valorização do conhecimento tradicional e da construção de políticas que respeitem os direitos territoriais e culturais dessas populações”, afirma o professor José Max Barbosa Oliveira-Junior, da UFOPA, um dos autores da pesquisa e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
O estudo também aponta que 66% dos trabalhos revisados priorizam populações não indígenas, enquanto apenas 16% abordam exclusivamente povos indígenas. Essa lacuna limita a compreensão das diversas realidades e reforça a invisibilização de práticas e saberes tradicionais na formulação de políticas de conservação.
Além das universidades federais do Oeste do Pará (UFOPA) e do Pará (UFPA), participaram da pesquisa especialistas da UNILAB e do Instituto Tecnológico Vale. A iniciativa integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sínteses da Biodiversidade Amazônica (INCT-SynBiAm) e o Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Amazônia Oriental (PPBio-AmOr).
Os autores também criticam a concentração da produção científica em instituições do hemisfério norte, fenômeno conhecido como “ciência de paraquedas”, e reforçam a importância de ampliar o protagonismo de pesquisadores e comunidades locais nos estudos sobre conservação na Amazônia.